sexta-feira, dezembro 29, 2006

A MORTE DOS POBRES

Vivemos pela morte e só ela é que afaga;
É a única esperança, e o mais alto prazer,
Que como um elixir nos transporta e embriaga,
E nos faz caminhar até o anoitecer.

E através da tormenta, e da neve e da vaga,
É o vibrante clarão de nosso obscuro ser,
Albergue inscrito em Livro e que nunca se apaga,
Feito para jantar e para adormecer.
É um anjo que segura em seus dedos magnéticos
O sono e mais o dom dos êxtases mais poéticos,
Que sempre o leito arruma aos pobres, como aos rotos;

Ela é a glória de Deus e a bolsa do mendigo,
É o místico celeiro e mais o lar antigo,
Pórtico que se abriu para os céus mais ignotos.

Baudelaire


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