sexta-feira, novembro 02, 2007

Às vezes, de noite, olhava-se no espelho para ter certeza de existia. Olhava-se nos olhos, tocava os cabelos, as mãos passavam nos rosto, entrava na boca. Sentia os músculos do pescoço, a nuca endurecida. A “saboneteira”, parte mais bonita em uma mulher para ela. A sua não era tão delineada, não gostava. Tocava os seios, que fingia não gostar. Os braços, a barriga. Brincava um pouco com o próprio umbigo, como se ele pudesse se transformar numa piscina muito funda. Escorregava a mão pelo ventre, lentamente. Sentia as pernas grossas, os joelhos. Sentava-se no chão e brincava com os dedos dos pés. Olhava bem para as próprias mãos, para certificar-se de que elas estavam onde deveriam estar. Depois de completamente vistoriada, ainda não se acreditava viva.

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