E p i t á f i o
Eu o via todas as noites. Vinha calado, calmo, passo a passo. Sentava-se na pequena poltrona desbotada e rasgada. Devagar, seus olhos percorriam o ambiente. A televisão ligada, o ventilador preguiçoso, o quadro roído pelas traças, a estante cheia de livros empoeirados, a porta da varanda.
Esses mesmos olhos que a tudo viam eram azuis. Não um azul pálido, qualquer, e sim profundo. Não apresentavam desagrado ou hostilidade, porém eu temia aqueles olhos. Eu nem o conhecia tão bem. Sabia que era paciente, tranqüilo, suas mãos bem tratadas mostravam uma vida sem trabalho árduo, a boca, bem desenhada e vermelha, era gentil e muda.
Nessa época minha vida é triste, não que agora seja diferente, apenas era pior. Os dias e o tempo passavam por mim, nem nos meus queridos livros eu mexia mais, nem neles, minha grande paixão. Porém esse homem fez com que tudo mudasse. Todas as noites, ansiosa, eu o esperava. A princípio não entendi o que queria. Chegava silencioso, observada tudo, sentava-se, e só. Não pronunciava uma única palavra.
Eu tinha perguntas. Quem era? O que fazia? O que o levava a me olhar como se conhecesse minha alma? Quem havia lhe dado tal direito? Eu não ousava perguntar-lhe nada. Calada.
Um dia , como sempre, eu o aguardei. Nada. Ele se fora. Depois de tanto tempo, abandonara-me...
Mas meu amor, como viveria sem te ver?
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Aqui jaz __________________ .
Infelizmente, como louca que era,
dizia a verdade.
Como a criança que foi,
aprendeu.
E na morte, seu louco amor foi encontrar!
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__________ Por . . .
(Pata patocha Ego lagartixa) ..