Estava revirando umas caixas guardadas. Encontrei tantas lembranças, tantas. Várias cartas de amigos, amigas, antigas pessoas que fizeram ou que fazem, parte da minha vida.
Estranho isso, ver coisas que um dia foram importantes. Pegar um papel e vir à tona frases, olhares, toques, cheiros, tudo de volta. Eu gosto e não gosto disso. É bom lembrar, é ruim a sensação de perda, de fracasso.
Estava relendo algumas coisas. Coisas boas e ruins. Minhas e de outros. De outra fase minha e dos outros. Cartas loucas e sem nexo. Ou contando notícias e fazendo promessas de um breve reencontro nunca realizado.
As palavras antigas foram o que mais me surpreenderam. Belos poemas de morte e depressão. De perda e dor. De sofrimento, loucura, insensatez.
Cheguei, definitivamente, à conclusão que não sou tão profunda assim. Eles não me comovem. Não os poemas românticos no sentido literário da palavra. Ou, quem sabe, eu seja realista demais. Eles não me atingem. Não vou negar que goste de poetas trágicos e românticos. Eu adoro. José de Alencar, Álvares de Azevedo, Gonçalves Dias. São ótimos.
Mas de resto, pessoas comuns, maníacos-depressivos, eles me cansam. São temas batidos, não existe mais coisas novas a se falar. Os temas são sempre os mesmos: dor, sangue, noites frias, gatos, lua, brancura, suicídio, loucura, morte, ódio, solidão, inferno, alma, Deus e o Diabo, vinho, cemitério, facas, cortes, amores impossíveis. Não tem mais o que explorar. Eu sei que tudo o que dizemos, um dia, já foi dito, mas devemos ao menos tentar falar de modo diferente, porém nesses poemas não,o formato é sempre o mesmo. Sempre começa com a dor e sempre acaba com a desilusão, a morte, o desamparo.
Já escrevi coisas do tipo, mas parei logo, percebi que o que eu falava já haviam falado antes e para alguém que escreve, mesmo que por diversão, que graça há em repetir algo? E, nesse estilo, escolhi escrever principalmente textos sensuais, contos,inspirados descaradamente em coisas como "Solfiere".
Quem sabe eu não consiga sentir as coisas com tanta intensidade, talvez eu seja apenas alguém que deixa tudo passar, que só observa os sentimentos e não tenta se lamentar do que se foi nem espera o que virá, que se senta na beira do riacho da vida e vê o rio passar lentamente e que, às vezes, joga uma pedra bem no meio e fique olhando a água se agitar e depois se acalmar sem tomar partido.
Queria saber se isso é bom ou ruim...